quinta-feira, 9 de abril de 2009

Paçoca com banana

Tem muita gente que nunca comeu paçoca de amendoim com banana. Não sabem o que estão perdendo. A banana prata, envolvida pela paçoca, tem um sabor especial que não dá pra explicar. A banana tem uma textura fina, fria e vai muito bem com a aspereza e o doce da paçoca. Porém, o melhor mesmo é preparar essa delícia, sentar em algum lugar com muito verde, deixar o sol bater no corpo e os pensamentos voltarem no tempo. Como fiz agorinha.
Nós não tínhamos pilão em casa, que é o que faz com que a paçoca fique mais fina. Então, mamãe torrava o amendoim e nós íamos para o quintal pra descascá-lo, ainda quente. Ele era despejado numa peneira grande, larga, de taquara, e íamos esfregando os grãos na palma da mão e soltando rápido, porque queimava. Quando já havia bastante casca na peneira, fazíamos como fazem com o grão de café: jogávamos o amendoim pra cima, num movimento de vai e volta sutil, guiado pela peneira, porém rápido e preciso para não perder nenhum grão. Bem, o chão ficava coberto de cascas, tanto das que caíam com esse movimento quanto das que vazavam pela peneira. E nós também, porque tínhamos de soprar as cascas quando jogávamos o amendoim para cima. Eu, frequentemente, ficava tonta de tanto soprar, mas era uma festa! Depois de descascado, íamos com o amendoim para a casa da Nazareth e do Baixinho (esqueci-me do nome da mãe do Baixinho que era um amor de pessoa e nos recebia muito bem lá) pra socar no pilão deles. Lá sempre tinha mais alguém pra fazer o mesmo (não me lembro se era a Soninha que ia junto, as meninas da Maria, ou as meninas da chácara) e ficávamos a tarde toda ali, esperando a vez, conversando, brincando, rindo, comendo alguma fruta, vendo as plantas e já antegozando o momento de saborear a paçoca. Nem sei como não passávamos mal, porque comíamos amendoim sem parar durante a espera. O braço reclamava depois da função de socar, porque éramos pequenas e o pilão muito grande. Mas o processo ainda estava começando: em casa, essa farinha de amendoim era misturada à farinha de mandioca e ao açúcar. Muitas vezes tudo era feito no pilão mesmo, mas quando tinha muita gente, fazíamos a segunda parte em casa, na máquina de moer carne. Ah, lembro-me que um poquinho dessa farinha de amendoim era guardada para ser misturada à canjica, outro costume da Semana Santa. Um detalhe: comíamos todas essas delícias, mas fazíamos jejum de carne na sexta-feira santa. Mamãe não admitita que entrasse carne em casa nesse dia. Ela fazia jejum mesmo, não comia nada, respeitava o dia santo. Nem rádio ligávamos! Não questionávamos esses costumes, nós os aceitávamos porque não nos incomodava ficar sem carne e sem música. Havia outras compensações, podíamos brincar no jardim, a casa ficava mais cheia porque os irmãos que moravam fora vinham para casa, alguns parentes apareciam. E sabíamos que, de alguma forma, nossa vida era boa. Como mamãe dizia, seguindo o que manda a religião, pra tudo Deus dá jeito. E aproveitávamos toda essa alegria (contida, porque papai não gostava que ríssemos muito nesse dia) e essa fartura de sabores que só tínhamos nessa época. Engraçado, não me lembro de comer bacalhau em substituição à carne. Aliás, fui conhecer bacalhau já bem grande. Era só sardinha. Nossa, mas a sardinha que a mamãe fazia, envolvida na farinha e no fubá antes de fritar, era um "negócio"! Arroz, feijão, sardinha , angu e alguma folha. Mãe do céu, que delícia. Ah....claro, esqueci do macarrão. Almoço de feriado sem macarrão, lá em casa, não era feriado. Aliás, meus filhos têm saudade do macarrão da mamãe até hoje. Não só eles, mas todos os netos. De vez em quando falo pra eles irem com uma panelinha no cemitério e pedirem pra ela fazer, porque o meu nunca vai ficar igual. Aí paro e me ponho a pensar: será que nossos filhos, ou netos que um dia vamos ter, vão sentir saudade de alguma coisa que nós fazemos? Vão se lembrar de momentos rotineiros, porém especiais, como eu me lembro? Tomara que sim! Tomara que nós tenhamos enriquecido a vidinha deles como a minha foi enriquecida com pequenas coisas cheias de amor. Aí, vai ter valido a pena viver.

2 comentários:

Unknown disse...

ah... esse seu post me trouxe boas lembranças e sabores da infância, e fiquei louca pra comer paçoca com banana!

bjs
Ju

Veronica Arteira disse...

Ju,querida, vc é a minha leitora mais fiel. SE é que tenho outras...rs. Se vc nunca comeu a paçoca com banana, experimente. Bom demaisssssssss...
Boa páscoa, amiga querida.