No feriado, vivi um misto de saudade e tristeza. Revi a casa onde morei toda a minha infância e adolescência. Andando pelos cômodos destruídos, parecia que estava ainda com pouca idade. Lembrei da correria e trabalho intenso da mamãe na cozinha (ela dava pensão-eu até poderia escrever "ela servia refeições", mas nós sempre falávamos que a mamãe dava pensão, não seria justo mudar isso nas minhas lembranças), das delícias que saíam de lá, das vezes em que ela dormiu no banquinho de madeira esperando assarem os bolos e bombocados , e que até hoje são lembrados pelas pessoas que compravam; do papai pitando seu cigarro de palha, depois de cortar o fumo e enrolar o cigarro, sempre cuspindo no chão. Pitava e cuspia.... Nem sei como a gente não tinha nojo. Hj, meu estômago embrulha só de lembrar disso.
Lembrei das vezes em que matavam porco e limpavam as bandas na mesa da cozinha, e da nossa pena do bicho, que gritava muito antes de morrer. E da tristeza do papai ao ter de fazer isso, mas era comida, e nós precisávamos da carne daquele bichinho criado no quintal. Andando pelos quartos, lembrei-me da Dona Clara, que foi um folclore na nosso infância. E foi uma companhia pra mim, jogando bisca ou me ensinando a fazer roupinha de boneca.
Lembrei de como era bom debruçar na janela e ficar vendo a vida passar, conversando com um, com outro, ouvindo o som do Daniel (não o cantor, mas o nosso amigo que colocava música no jardim pra todos ouvirmos), das vezes em que eu e a Dilurdes batíamos na parede pra avisar que íamos dormir - éramos vizinhas de parede e meia (termo que nem escuto mais...), das vezes em que estava conversando com algum paquera e o papai chegava e batia a janela na cara dele...Aiiii....morria de vergonha!!!
E o banheiro? Era enorme...eu me lembro que deitava no chão e lia os jornais que eram espalhados lá depois que o banheiro era limpo. Esquecia da vida... Mas hoje, ele me pareceu tão pequeno. Fui eu que cresci? E a salinha onde tinha o cofre? É pequena, mas fazíamos nossas refeições ali. ERa uma farra..De vez em quando, ouvíamos barulho no forro (gato ou gambá), caía algum farelo e hj o forro nem existe mais, caiu todinho. E o quarto grande? Onde tinha alucinações quando estava com febre alta? Eu sentia que as paredes estavam vindo para cima de mim.... O quarto era grande, as paredes com pé-direito muito alto, as visões eram estranhas e eu tinha medo, às vezes. Engraçado que tudo parecia muito grande naquela época, os cômodos abrigavam muitos móveis, mas havia espaço pra circular. AS recordações vão por aí afora, um dia escrevo mais sobre isso, mas não podia deixar de citar que, para entrar lá, junto com o dono, tivemos de pular a janela. E eu revivi as inúmeras vezes que fiz isso... Esperava o papai dormir e pulava a janela do quarto para ir a algum baile ou ao carnaval... e de short!!! Ele nunca ficou sabendo que fiz isso tantas vezes, com o pleno consetimento da mamãe, claro. Ele era muito bravo e não me deixaria ir, então, o recurso era pular a janela. D. Rézia, querida demais, me proporcionava essa oportunidade de ir ao clube. Ela nos levava, eu e Cidinha. E a volta?Eu ficava escondida atrás da gruta esperando papai sair pra trabalhar (ele saía mais ou menos às 5 da manhã) pra entrar pela porta da frente. Tadinha da mamãe, passava aperto, porque tinha medo que ele se levantasse e procurasse por mim, já que os quartos todos tinham portas interligadas. Quanta saudadeeeeee!!!
Bem, suspiros e suspiros acontecem enquanto escrevo e só me resta lembrar e cantar, como minha mãe querida cantava sempre: O tempo bom, não volta mais, saudade, de outros tempos iguais.
A fachada da casa: uma das árvores ainda permanece,mas a casa está desaparecendo.O número da casa e do meu ano de nascimento.
Uma das janelas que mostra galhos da enorme árvore do jardim da igreja, aliás, nosso quintal.
Murinho na saída da cozinha para o quintal Mamãe debruçou-se nele tantas vezes: o que pensaria?
A porta de entrada mostra a altura do pé-direito. Nós ficávamos ainda menores diante de portas tão majestosas.