Em CASA! Não é tão claro como eu gostaria, aqui. Ando sedenta de claridade, de sol dentro de casa. Mas eu trouxe o sol de lá.
Mas lá não tem verde, só cinza. E não há silêncio, nem à noite. Buzinas, freadas, gritos esparsos, alarmes....
E aqui, o que me acorda, é o miado da gata, que não quer namorar o gato, o meu gato, provavelmente. E, cedinho, chegam as maritacas...Fazem uma festa no meu abacateiro. Parecem comadres conversando...
Coisa que lá eu não escuto. Nem mesmo a conversa de comadres. No meu andar um silêncio de vozes... Impressionante. No elevador, um raro “ Bom dia”.
Lá, bem cedinho, começam as máquinas das construções. E atravessam o dia. Por vezes, até uma parte da noite. O progresso exige “dentro do prazo”. “Time is money”.
Aqui, não. Uma obra traz a risada dos pedreiros, o radinho ligado na rádio local, a conversa gira sobre o que noticia a emissora. Grandes obras? São raras. Barulhentas? Muito pouco. Melhor assim. O progresso é sempre necessário, mas não à custa do “mal viver”. As casinhas continuam de pé, com jardins floridos, buganvílias esparramadas nos muros, num colorido assustador. Não, deslumbrante!!!
E as casinhas de lá? Na minha rua, acabaram... Em seu lugar, canteiros de obras. Nem mesmo aquela vilinha simpática... Como é que se vive assim? “Mas é o preço do progresso”, eles dizem. “A população aumenta diariamente, temos de fazer mais casas...” Escuto no ônibus, na rua, nas lojas... alguém sugeriu que acabem com aquele estacionamento no centro e façam prédios para acomodar os mais necessitados. O outro é veemente: “Aqui , na baía, não! Eles precisam de casa, mas não se pode tirar a vista da baía..”. Isto, no ônibus, dois homens que apenas sentaram-se juntos. Opiniões fortes, volta e meia um discorda do outro. Mas o destino de um está próximo... Até outro dia! Mas os outros, em silêncio. Silêncio de desconhecidos, de defesa, de medo. Cidade grande, não podemos confiar em qualquer um. Lembra daquela amiga? Dor de cabeça e o ocupante do outro banco ofereceu massagem. Acabou, ele disse baixinho: “Fique calma, vou assaltar o ônibus.” Pescoço deve ter queimado, cabeça doído mais ainda... E com aquela aparência, educado...
Aqui não tem isso. A gente confia. Às vezes, quebra a cara, mas vale a intenção. Bom dia! Boa tarde! Como vai? Anda sumida... E as crianças? E os estudos? Marido tá ficando muito sozinho...Abra o olho...
Mas lá não tem verde, só cinza. E não há silêncio, nem à noite. Buzinas, freadas, gritos esparsos, alarmes....
E aqui, o que me acorda, é o miado da gata, que não quer namorar o gato, o meu gato, provavelmente. E, cedinho, chegam as maritacas...Fazem uma festa no meu abacateiro. Parecem comadres conversando...
Coisa que lá eu não escuto. Nem mesmo a conversa de comadres. No meu andar um silêncio de vozes... Impressionante. No elevador, um raro “ Bom dia”.
Lá, bem cedinho, começam as máquinas das construções. E atravessam o dia. Por vezes, até uma parte da noite. O progresso exige “dentro do prazo”. “Time is money”.
Aqui, não. Uma obra traz a risada dos pedreiros, o radinho ligado na rádio local, a conversa gira sobre o que noticia a emissora. Grandes obras? São raras. Barulhentas? Muito pouco. Melhor assim. O progresso é sempre necessário, mas não à custa do “mal viver”. As casinhas continuam de pé, com jardins floridos, buganvílias esparramadas nos muros, num colorido assustador. Não, deslumbrante!!!
E as casinhas de lá? Na minha rua, acabaram... Em seu lugar, canteiros de obras. Nem mesmo aquela vilinha simpática... Como é que se vive assim? “Mas é o preço do progresso”, eles dizem. “A população aumenta diariamente, temos de fazer mais casas...” Escuto no ônibus, na rua, nas lojas... alguém sugeriu que acabem com aquele estacionamento no centro e façam prédios para acomodar os mais necessitados. O outro é veemente: “Aqui , na baía, não! Eles precisam de casa, mas não se pode tirar a vista da baía..”. Isto, no ônibus, dois homens que apenas sentaram-se juntos. Opiniões fortes, volta e meia um discorda do outro. Mas o destino de um está próximo... Até outro dia! Mas os outros, em silêncio. Silêncio de desconhecidos, de defesa, de medo. Cidade grande, não podemos confiar em qualquer um. Lembra daquela amiga? Dor de cabeça e o ocupante do outro banco ofereceu massagem. Acabou, ele disse baixinho: “Fique calma, vou assaltar o ônibus.” Pescoço deve ter queimado, cabeça doído mais ainda... E com aquela aparência, educado...
Aqui não tem isso. A gente confia. Às vezes, quebra a cara, mas vale a intenção. Bom dia! Boa tarde! Como vai? Anda sumida... E as crianças? E os estudos? Marido tá ficando muito sozinho...Abra o olho...
Lá tem o filho.... E aqui tem o marido...
Mas penso na cidade grande, nos amigos que tenho lá, na vida acadêmica que me dá um prazer incrível, além de aumentar o meu saber. Não, diminuir a minha ignorância. Lá, respira-se outra coisa. Ares de cultura sobejam. Aqui também, mas a minha turma está lá.
Aqui, respira-se saúde. Ar limpo, céu tão azul que doem os olhos. Um quadro de Van Gogh, talvez? E a minha turma está aqui. Não a das grandes discussões literárias, das leituras de lingüística, dos questionamentos da língua, da historiografia, dos exercícios de português. Mas a das conversas ao redor da mesa, família, filhos, amigos. A vida por dentro, de outra forma. A turma que está envelhecendo comigo, que acompanha as minhas alegrias e as minhas dores, que me dá o abraço, que me dá conforto. Que toma meu café nos fins de semana, que gosta dos meus bolos, que enche minha casa de vozes, de alegria, de risadas deliciosas.
Mas penso na cidade grande, nos amigos que tenho lá, na vida acadêmica que me dá um prazer incrível, além de aumentar o meu saber. Não, diminuir a minha ignorância. Lá, respira-se outra coisa. Ares de cultura sobejam. Aqui também, mas a minha turma está lá.
Aqui, respira-se saúde. Ar limpo, céu tão azul que doem os olhos. Um quadro de Van Gogh, talvez? E a minha turma está aqui. Não a das grandes discussões literárias, das leituras de lingüística, dos questionamentos da língua, da historiografia, dos exercícios de português. Mas a das conversas ao redor da mesa, família, filhos, amigos. A vida por dentro, de outra forma. A turma que está envelhecendo comigo, que acompanha as minhas alegrias e as minhas dores, que me dá o abraço, que me dá conforto. Que toma meu café nos fins de semana, que gosta dos meus bolos, que enche minha casa de vozes, de alegria, de risadas deliciosas.
Mas e lá? A turma de lá me enche de cultura. Pra alguns, sou a Martha. E a Martha é muito estudiosa. Além de alegre, pra cima. A Martha tem leitura, aprecia bons filmes. Alguns cult, que eu só fui saber o que era, lá. Até inteligente, dizem.
E lá também me enchem de carinho, de atenção, de abraços calorosos. Como os dessa semana...
E a daqui? Daqui é a Veronica. Gosta de comédias românticas, nada de drama pesado. "Jardineiro fiel", por exemplo, combina com lá. Aqui, é mais “O som do coração”.
Lá, o papel domina, aqui, é o tecido, a linha, as tintas, os papéis coloridos... O papel de lá é outro, traz nas linhas marcadas coisas que eu ainda não sabia, coisas que eu quero conhecer, coisas que me fazem pensar de um outro modo. Que me fazem querer mudar alguma coisa . Aprender mais para poder mudar alguma coisa... Alguma coisa...
E chego em CASA, cabeça fervilhando, querendo que o mundo de lá se junte ao mundo daqui, que a distância diminua, que eu possa ter os dois no mesmo lugar...
Abri as asas, ta vendo? E voei alto demais. E agora, dividida, quero o chão e o céu...
E a daqui? Daqui é a Veronica. Gosta de comédias românticas, nada de drama pesado. "Jardineiro fiel", por exemplo, combina com lá. Aqui, é mais “O som do coração”.
Lá, o papel domina, aqui, é o tecido, a linha, as tintas, os papéis coloridos... O papel de lá é outro, traz nas linhas marcadas coisas que eu ainda não sabia, coisas que eu quero conhecer, coisas que me fazem pensar de um outro modo. Que me fazem querer mudar alguma coisa . Aprender mais para poder mudar alguma coisa... Alguma coisa...
E chego em CASA, cabeça fervilhando, querendo que o mundo de lá se junte ao mundo daqui, que a distância diminua, que eu possa ter os dois no mesmo lugar...
Abri as asas, ta vendo? E voei alto demais. E agora, dividida, quero o chão e o céu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário